Dia desses, conversando com uma amiga sobre uma tristeza que ela estava sentindo, escrevi na caixa de mensagem: pena que ainda não inventaram band-aid para a alma. A frase, depois, ficou ecoando em mim. Como fazem alguns textos que não escrevo.

Alma é coisa fácil de machucar.

Uma palavra que acreditamos ter sido dita na hora errada. Uma necessidade da gente que não foi atendida. Uma interpretação que damos ao que alguém diz ou faz. Um gesto violento contra a gente ou contra alguém que amamos. Transformamos o que vem de fora em facas finas que cortam nossa alma, igual papel quando corta o dedo da gente. Dor fina, fio de sangue. Muitas vezes culpa da gente mesmo. Mas dói.

Dor que vem de dentro

Não existe band-aid para a alma. É verdade. Mas ando descobrindo maneiras de não deixar a minha se ferir tão facilmente. Primeiro, ao entender que só eu posso me causar dor emocional. Ela vem de dentro, não de fora. A dor vem dos sentimentos que tenho, da maneira como reajo ao que vem do outro. Daquilo que espero que venha de fora, mas preciso construir por dentro.

Não inventaram band-aid para a alma, mas inventaram maneiras da gente se conhecer e se cuidar. Meu processo tem sido lento. Insights vieram em anos de terapia e agora chegam por meio de um profundo encontro com um tema do qual sempre fugi: a raiva.

Ataques de raiva

Ao mergulhar em como lidar com esse sentimento, tenho feito descobertas importantes sobre mim. Sou normalmente calma, mas meus acessos de raiva machucam quem não merece. E os piores, os mais violentos, se voltam para dentro. Explodem na pele, em medos, em barreiras que ergo e depois não sei derrubar.

Talvez, no fundo, eu esteja criando minha própria receita de band-aid para a alma. Aprendi que dá para evitar alguns machucados, desviar de arranhões e minimizar os riscos das fraturas emocionais.

Ainda não aprendi a evitar meus arranhões e fraturas por completo. Tem hora em que o risco faz cair e quebrar. Esfola a camada fina que segura a lágrima. Arranha o auto-amor duramente conquistado. A fórmula do meu band-aid ainda está sendo criada. Tem componentes dos quais estou me aproximando, sem medo de errar.

Mergulho

Continuarei mergulhando em mim, em busca do que quer que seja que ajude certas dores a não precisarem existir. Não se trata de enxergar tudo em cores suaves. Ou de viver em uma bolha onde serei imune à tristeza. Mas de tratar do que vier de forma amorosa, pela expressão transparente das minhas necessidades, pelo entendimento da necessidade do outro.

Gosto da imagem do band-aid. Principalmente porque a gente para de colocar assim que a pele fecha o suficiente para parar de sangrar. Daí para a frente, a natureza faz sua parte. A pele renasce. O machucado cura. Na maioria das vezes, fica nem sinal. Como acontece no nosso percurso com as dores da alma.

Pode demorar. Mas um dia vai parar de doer.