O que faríamos se pudéssemos, verdadeiramente, ocupar o lugar de outra pessoa?

Hoje me peguei pensando assim. O que faria se fosse uma adolescente de 16 anos, insatisfeita com a educação que recebo, insatisfeita com o país em que vivo, insatisfeita com tudo que me fazem consumir e acreditar (ideias, produtos, conceitos, pré-conceitos)?

Em meio às tantas reflexões que me passaram pela cabeça na tarde de hoje, acredito que, muito provavelmente, a Adriana adolescente estaria ocupando escola. Muitos amigos vão estranhar e pensar que fiquei louca, afinal, sou contrária às ocupações, da maneira como elas acontecem.

Repensar escolas

Estaria ocupando escolas para repensar escolas. Estaria ocupando, mas não impondo minha vontade e desrespeitando a vontade dos demais. Todos seriam livres para entrar e usar o espaço da escola. Seja para estudar, seja para participar de rodas de reflexão. Jamais impediria professores de fazerem seu trabalho. Nem impediria colegas de assistirem aulas, se assim o quisessem.

Mas ocuparia escolas para repensar escolas. Porque hoje repenso a escola. Começo pela obrigatoriedade. Aprender é algo tão delicioso, tão incrivelmente mágico, que nunca deveria ser obrigatório. Deveria ser algo que a gente acorda com o maior tesão de fazer. Oba! Vou acordar mais cedo, quero ir para a escola aprender algo novo!

Ocuparia escolas para chamar meus professores e colegas, promover uma grande competição criativa e propor a discussão de um tema: em qual escola quero estudar? qual professor eu quero para me formar? em que cidade eu quero viver e de que maneira vou poder usar meus talentos para contribuir com esse lugar no futuro?

Ocuparia escolas para repensar o jeito de se fazer escola. Deixaria entrar qualquer pessoa que quisesse estar ali. Ouviria quem quisesse ouvir. Daria atenção àquele que tivesse mais brilho nos olhos e menos sangue nos dentes. Me encantaria com quem me explicasse as coisas que não sei. Talvez evitasse quem tentasse me convencer raivosamente e sem fundamentos acerca de uma visão de mundo que não combina com meus valores. Respeitaria a todos, independente de ideologia, credo, raça, formação, classe social.

Ocuparia escolas para pensar em como fazer uma escola mais legal, mais integrada, mais humana, em que professores fossem mais respeitados e ideias fossem mais respeitadas. Ocuparia escolas para falar sobre bullying, para refletir sobre consumismo, mundo de aparências, preguiça intelectual, violência, sexo, álcool, depressão, futuro, alegria, tristeza.

Abrir a mente

Ocuparia escolas para ouvir quem pensa diferente, quem pensa igual, quem quer mudar o mundo, quem quer que tudo permaneça estável. Ocuparia escolas para abrir as portas a quem pensa, raciocina, cria, critica, inventa, constrói, reinventa, respeita. E também para quem não quer nada com nada, para quem tem preguiça, para quem se deixa levar. Porque é na escola que a gente aprende a pensar. É na escola que nossa mente se abre, se expande, se mistura.

Ocuparia escola para construir na prática a escola que quero. Fugiria de quem tentasse me empurrar uma verdade filtrada, porque sou capaz de ouvir diferentes lados e pensar meu próprio caminho. Fugiria de quem tentasse me impedir de ocupar escolas, porque a escola é minha, sua, de todo mundo. Por isso não se pode impedir que professores entrem, que colegas entrem, que aulas aconteçam.

Se fosse adolescente hoje, iria querer desenhar a escola que me ensinasse a pensar, que me ensinasse a respeitar as diferenças, que não me obrigasse ao que não quero, mas me qualificasse a ser a melhor que eu puder ser.

Apenas a educação é capaz de mudar nossas vidas. E não se faz educação de qualidade, escola que dê tesão, obrigando as pessoas a alguma coisa. Não se faz educação de qualidade expulsando professor que pensa contrário. Não se faz escola de qualidade chamando crianças e adolescentes de palavras impublicáveis, apenas porque ocuparam escolas. Não se faz educação de qualidade impendindo que o colega que quer ter aula possa entrar.

Liberdade

Eu ocuparia escolas para repensar a escola. Mas daria liberdade para que todos pudessem continuar vivendo sua rotina escolar. E quem quisesse vir comigo repensar, como seria bom. Como seria bom pensar em menos obrigação e mais encantamento pelo aprendizado. Como seria bom sentar ao lado de quem pensa diferente de mim e trocar pontos de vista. Como seria bom ouvir sem achar que minha verdade é mais verdadeira.

Sim, se fosse adolescente, acredito que ocuparia escolas. Mas deixaria as portas abertas. Como devem ser as portas do saber e do conhecimento.