No instante em que ela virou a esquina, meu coração disparou. Eu sabia que viria. Assim como sabia que a visita seria breve, mas repleta de amor verdadeiro.
Distraída, dirigia sem olhar em minha direção. Era impossível avistar seus olhos azuis, que costumavam brilhar diante de minha presença. Um olhar tão meu.
Senti o vento passando, um arrepio, um pouquinho de medo de que ela passasse direto, fingindo não me ver. E, de repente, ela sumiu de vista, seguindo o fluxo do trânsito da cidade.
Chorei por dentro, me entreguei ao vento e à melancolia de não receber sua visita. Cabisbaixo, não a vi chegar caminhando, com seus passos leves e seu olhar tão maravilhado por me ver.
Ela vinha lentamente, me olhando com intensidade e um sorriso nos lábios, como que maravilhada por me encontrar novamente, com a mesma roupa amarela, que mais parecia tecida de ouro.
Ao chegar perto, ficou apenas me olhando docemente, encantada com as flores que eu deixava cair aos seus pés, para que seu caminho fosse mais suave e cheio de cor. Ficamos juntos algum tempo. Ela a me encantar com seus olhos azuis. Eu a aliviar suas pequenas tristezas com flores jogadas a seus pés.
O tempo parou e no burburinho da praça agitada, ficamos apenas os dois. Sem palavras. Só sentimento. Quando ela se despediu, ficou seu perfume em mim. Ficou meu perfume e minhas flores nela. Eu a vi caminhando rumo ao carro e ao trânsito agitado da cidade que cresce.
Folhas caem de meus galhos imensos, como se fosse possível a um ipê amarelo acenar um beijo de adeus. Sei que ela voltará no próximo inverno. Somos amantes apaixonados. Ela por minhas flores. Eu, pelo seu olhar de menina que se encanta com a beleza em tudo o que vê.
Homenagem ao ipê amarelo da praça do Santuário. Floresceu tardiamente, meio fora do tempo. Como os amores que só acontecem na maturidade. Sempre faço uma visita. Dia desses, ao errar o caminho, nos encontramos quase sem querer. Que bom que a vida nos desvia vez ou outra.
Publicado originalmente no Facebook, em setembro de 2018