Já reparou como sempre encontramos tempo para ir a um velório? Damos um jeito na agenda, chegamos atrasados ao trabalho, dormimos mais tarde, acordamos mais cedo, cancelamos um encontro, adiamos uma reunião.
Sempre encontramos tempo quando já não dá mais tempo de chegar para aquela abraço, adiado há tempos pela pressão dos compromissos inadiáveis.
Velórios, paradoxalmente, são lugares de encontros. A gente abraça a família de quem se foi, demonstra solidariedade e amor. Mas também encontra pessoas que não vê faz tempo. Pessoas que adoramos, mas que não visitamos mais porque não há tempo.
Em velório a gente se despede. Mas também se encontra. Amigos comuns de quem se foi. Amigos que normalmente se vêem pouco, que sofrem juntos nesse momento de dor. Mas que por instantes sentem o coração aquecidinho pelo abraço trocado, pela conversa segurando as mãos, pelo abraço apertado que traduz a saudade de quem só encontra tempo para os mortos. Quando o tempo já não tem tanta importância assim.
Já reparou como é gostoso um almoço de duas horas com alguém que a gente quer bem? Ou uma fofoca com o colega de trabalho entre a correção de uma prova ou outra? Ou ouvir o telefone tocar e do outro lado ouvir aquela voz gostosa do amigo de trinta anos atrás? E aquela sensação boa de quem manda uma mensagem dizendo: estou indo te ver, tem compromisso agora? Mais gostoso é responder: vem sim, vou coar café para você.
Vivi todos esses momentos na última semana, do velório à amiga que coou café para me esperar, no dia do seu aniversário. Velórios são inevitáveis na medida em que envelhecemos e o tempo passa. É importante encontrar tempo para oferecer nosso abraço a quem sofre.
Mas quero mais encontros em momentos cheios de vida. Quero abraço em visita inesperada, em café demorado, em encontro ocasional. Que a gente arrume tempo para o que é essencial. Enquanto há tempo de declarar nosso amor, respeito, carinho e admiração.
Tempo, tempo, mano velho
Falta pouco ainda, eu seu
Prá você correr macio…
Publicado no Facebook em junho de 2019