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Ser original em um mundo de cópias

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Ser original em um mundo de cópias

Hoje de manhã eu ouvia um podcast que falava sobre originalidade. O entrevistador era um rapaz chamado Facundo Guerra, que foi indicado por uma colega de profissão como sendo um profissional que vem questionando o tema sobre o qual escrevo. Como ser original em um mundo de cópias.

Ele entrevistava uma influenciadora chamada Sarah Gomes. Em dado momento, ela citou uma frase, que seria atribuída a Picasso, de que bons artistas copiam, grandes artistas roubam. Como sou curiosa, fui pesquisar e a frase já foi atribuída a Steve Jobs, T.S. Elliot, entre outros poetas e artistas.

A explicação da moça fez sentido . Ela relaciona esse “roubo” intelectual a algo que inspira, que coloca os neurônios para funcionar, que desperta a vontade de fazer igual ou melhor.

Seria algo mais parecido com uma apropriação indébita do que um roubo. A ideia ressoa em mim, eu processo, reflito, repenso. Minha orientadora de pós graduação na USP, professora Maria Aparecida Baccega, tinha uma frase que eu sempre gostei muito: “O novo está contido nas possibilidades do velho”.

Inspirações

Eu amo Fabrício Carpinejar. Caio Fernando Abreu. Sou encantada pela prosa de Mia Couto e pela poesia de Fernando Pessoa. O texto deles me inspira, tento frasear com a mesma fluência, desenhar cenários com as palavras, traçar sentimentos com a ponta do lápis.

O fazer poético de suas crônicas, a paleta artística de suas escolhas vocabulares, a perfeição das suas primeiras e últimas linhas… tudo isso me consome. Me provoca, me instiga, chega a doer a beleza do que leio e a incapacidade de reproduzir. Dentro de mim mora um ser avesso às cópias. Um ser que acredita na originalidade de contar histórias.

Assim, volto à provocação inicial. Para ser original, é preciso mais que roubar ideias. É preciso apropriar-se delas como alimento para seu próprio processo criativo.

Operária da palavra

Quando escrevo textos baseados em algo que já foi escrito, costumo pesquisar muito. Descarto materiais medíocres e busco os melhores. Seleciono o que eles me ensinam. Reservo. Como em uma receita de pão, onde deixo as ideias crescerem. Escrever não acontece no piloto automático, embora eu seja operária da palavra.

Depois, somos o briefing do meu cliente, a tela em branco, as referências que deixei maturar, meu cérebro e meu velho mac. O texto vem, naturalmente, sem que eu copie uma única linha, uma única citação, um único exemplo. Quando tenho o privilégio de entrevistar pessoas para escrever sobre um tema, o processo é ainda mais fluido. Combino aos ingredientes anteriores a algo de único que essa fonte me traz.

Talvez eu esteja na contramão de tudo o que ensinam os modernos manuais da escrita. Resolvi estudá-los. Afinal, como bem lembraram Picasso e Steve Jobs, as boas ideias estão aí para serem colhidas, de alguma maneira. Mas colher ideias é diferente de copiá-las, parafraseá-las ou deixá-las com uma roupinha mais up to date. Colher ideias é deixar maturar. É cruzar o que a gente ouviu no rap do Emicida (por quem ando morrendo de amores!) com o que Victor Hugo escreveu há alguns séculos.

Palavras que fazem pensar

Escrever é criar. É usar palavras para contar histórias. É cativar os olhos de quem entra com a gente nessa jornada.

Nunca sabemos quem vai chegar até o final, nem se o texto está bom o suficiente para costurar o sentido que a gente quis dar com o que faz sentido para o outro. Nessa semana, chorei ao terminar de ler Flores para Algernon, um clássico de Daniel Keyes. Não roubarei seu perfeito texto, mas suas linhas finais entrarão para meu depósito de palavras que fazem pensar.

Confesso que meus conceitos sobre originalidade e compartilhamento na produção criativa foram atualizados.

Dedico esses textos à Angélica Oliveira, que me apresentou o rapaz que inspirou a coisa toda.