Gosto das coisas antigas.
Uma que sempre encantou minha alma é a roca de fiar.
Tem vezes que penso que nasci no tempo errado.
Talvez eu seja uma velha fiandeira
Que ao invés de fios,
Tece palavras.
Havia na casa de minha avó paterna
Uma antiga roca de fiar.
Sem memória se era só enfeite ou se dela saiam
Tecidos, tapetes, colchas.
Talvez naquela sala enorme, assoalho de madeira,
Tenha nascido meu encanto pelas velhas rocas.
Sem talento para lidar com os fios
Eu já devia tecer poesia com meu jeito de menina.
Sem entender direito a proximidade
Entre sentimentos tão distantes e tão próximos.
Amor e medo.
Talvez as almas da velhas tecelãs
Que um dia tiraram fios daquela roca
Tenham me ensinado a tecer histórias.
Trabalho mais leve e adequado às pequenas mãos da criança.
Sigo a tecer.
Fios de memória.
Fios de sonhos.
Fios de histórias.
Fios de palavras.
Talvez, no fundo, haja uma tecelã em mim.
Escondida naquela velha roca de fiar
Da sala da minha avó.
Em torno dela giram as almas e talvez
Girem as lágrimas dos que ali viveram e morreram.
Na velha roca da sala de minha avó,
Na lembrança e na imaginação,
Simplesmente me ponho a tecer.
Publicado originalmente no Facebook, em agosto de 2019.