Girassol
Algumas pessoas me perguntam de onde tiro a capacidade de transformar em palavras as imagens cotidianas, fotografadas por meus olhos.
Talvez eu seja como esse girassol, nascido no asfalto da cidade. Caminhava a pé quando o percebi brilhando em meio às Marias sem Vergonha que invadem a calçada.
Flores que insistem em nascer, mesmo nos lugares menos prováveis, devem ter algo especial na semente. Falta terra, falta água, sobra sol, há essência na semente.
Ao escrever, faço nascer a semente que um bom contador de histórias plantou um dia. Ele inventava personagens, canções e tramas. Ensinava a apreciar os livros, as revistas, os jornais.
Obrigada, Seu Rolando Zenon. A semente floresceu no asfalto. Tal qual girassol, suas palavras saem da terra e tocam alguns corações. Isso não existiria sem sua mala vermelha de livros, sem suas personagens inventadas, sem as musiquinhas malucas que saíam de sua cabeça, sem seu jeito especial de ser pai.
São tantos anos sem você. Mas saiba que está em algumas das minhas palavras. Estará sempre.
Texto publicado originalmente no Facebook, em 13 de agosto de 2017