Caminhar com ele todas as manhãs, durante algum tempo, me fez feliz. Eu mais ouvia do que falava. Ria das coisas mais tolas. Era tudo bem simples. Na despedida, um beijo no rosto e a certeza de que em breve voltaríamos a compartilhar aquela primeira hora do dia.

Caminhar com ele todas as manhãs era comum. Não me preocupava em estar bonita ou arrumada, nem em causar qualquer tipo de impressão. Era um homem bonito, a quem eu amava. Chegava, entrava por alguns minutos para tomar uma xícara de café. Sem elogios, sem afagos, sem carícias. Mas naquele breve encontro na minha pequena casa, momentos únicos de intimidade. Ele foi meu cúmplice nas manhãs serenas, que passavam sem pressa alguma.

Caminhar com ele todas as manhãs era seguro. Um homem grande e forte. Outros homens passavam ao lado, alguns sorriam. Outras mulheres passavam, algumas sorriam. Em meio a bom dias e sorrisos, meu olhar era apenas dele, meu sorriso para ele, meu coração batia no compasso do caminho cheio de natureza, cheiro bom de mato e o som da sua voz, agora tão companheira.

Caminhar com ele todas as manhãs era tudo que ele podia dar. Um homem marcado por histórias que não vivi. Algumas vezes vi nele um homem sem coração. Hoje vejo diferente. Um homem cujo coração foi partido muitas vezes e que por isso, deixou de confiar. Dentro daquele peito de homem existe sim um coração. Que talvez, enquanto caminhávamos, bateu algumas vezes por mim.

Caminhar com ele todas as manhãs fazia meu dia valer a pena. Quando abria o portão e o via ali, tão simples e tão presente, era um momento de amor. Entrava, tomava sua xícara de café e saíamos. Sem cavalheirismos, dos quais gosto tanto. Sem gentilezas. Um homem que sempre foi direto ao ponto. Que também nunca fez nada para me impressionar. Era ele, sem maquiagem, em seus silêncios.

Caminhar com ele todas as manhãs me faz uma falta imensa. Sinto saudades de sua voz, de seu riso, de sua pressa e da pouca habilidade em se conectar. Em meus devaneios, penso que por dentro ele sentia a mesma vontade que eu, de que aquela caminhada demorasse mais a passar. De que aquele tempo juntos pudesse se estender um pouco mais.

Caminhar com ele todas as manhãs me fez esquecer os amores de ontem. Fez nascer um novo tipo de amor, em um coração que andava frio. Um coração com medo de sentir. Que bom que caminhamos juntos por um tempo. Que bom que nos permitimos viver esse contato possível. Era seu jeito de estar junto. Nunca soube o que ele sentia por mim. Ele nunca falou, exceto em postagens rápidas em meios digitais. Algumas vezes precisamos das palavras. Sei que sou importante em sua vida. Estive ao seu lado não apenas na caminhada, mas em um momento difícil. Fui companheira até que não aguentei a dor de vê-lo partir. 

Caminhar com ele todas as manhãs me faz estar feliz agora, por saber que ele segue seu caminho. Saber que é um homem que constrói seus passos, um homem corajoso, destemido, seguro. Um homem a quem amei e amo. Um homem a quem admiro e quero que seja feliz.

Caminhar com ele todas as manhãs deixou-me com boas lembranças e com a energia necessária para continuar caminhando todas as manhãs, por enquanto sozinha, mas com a certeza de que tudo dará certo. É preciso seguir caminhando todas as manhãs. 

Escrito em agosto de 2014, como remédio para um coração machucado. Inédito.