Bonsai
Há cerca de quinze anos, meu amigo Marcelo Couto me deu um bonsai de presente. Uma tuia pequenina, que precisava apenas de água e sol para viver feliz.
Ao longo desses anos todos, cultivo essa planta com muito cuidado e amor. Tiro folhas secas, coloco água, tiro trevos e outras folhinhas que aparecem às vezes.
Recentemente, ele estava bastante descuidado. Procurei um especialista que deu uma repaginada na pequena árvore, que ganhou vida nova.
Cultivar
Cultivar uma planta é como cultivar relacionamentos. Sejam de que ordem forem: amizades, namoro, casamento, familiares, comunitários, acadêmicos… Quando ganhamos uma planta, logo procuramos saber como cuidar dela, colocar água, deixar ao sol ou à sombra, tirar folhas secas. Com o tempo, vamos descuidando. Em especial quando as flores caem. Algumas pessoas simplesmente jogam o vaso fora. Outras colocam aquele vaso no quintal e o esquecem lá fora. Outras resolvem dedicar tempo, cuidados e carinho.
Com as pessoas, muitas vezes acontece algo parecido. A gente se conhece e se encanta. Liga, manda mensagens, frequenta a casa, sai junto, troca confidências. As obrigações do dia a dia fazem com que os contatos se tornem esparsos. Os telefonemas ficam menos frequentes, as visitas raras. Algumas vezes nos afastamos completamente, mesmo que aquela pessoa continue ocupando um espaço importante em nosso coração.
Resgates
Ando pensando, no entanto, que sempre é tempo para resgatar um relacionamento. Assim como fiz com o bonsai, que recebeu o tratamento de um especialista e tornou-se novamente belo, podemos resgatar pessoas. Uma visita, um telefonema inusitado, um recado no mural, uma antiga foto reeditada. No caso dos amores antigos, é preciso tomar cuidado para não acordar o coração, caso não haja mais o encanto. Na família, buscar os primos, primeiros amigos queridos.
A vida em sociedade tem nos feito mais distantes. Quantas vezes fico sozinha podendo buscar alguém. Quantas vezes evitamos telefonar com medo de incomodar o outro. Quantas vezes não declaramos o que sentimos por temer a rejeição, seja qual for.
Estou encantada com a beleza do meu bonsai, que simboliza minha amizade com o Marcelo Couto. Estou encantada com reencontros. Estou encantada com minha capacidade de aprender que sempre é possível repensar e rever nossos próprios conceitos acerca de nossas certezas de ontem. Elas podem mudar amanhã, sem sofrimento.
Texto publicado originalmente no Facebook, em 31 de julho de 2013.