Bela despedida
Eu tinha certeza absoluta que fiz a escolha perfeita quando vi minha Pessoa de Estimação pela primeira vez. Era ainda uma filhotinha recém desmamada. Me colocaram em uma espécie de berçário com outros filhotes. Eu, que sempre fui esperta, percebi logo que para sair daquele lugar, teria que usar minhas técnicas de sedução canina.
Assim eu fiz quando vi aquela moça triste, de cabelos curtos e vermelhos, que veio em minha direção. Na hora que nossos olhares se cruzaram eu pensei: é ela! Essa será minha Pessoa de Estimação. Usei todo o meu repertório de fofurices para conquista-la. Foi mais fácil do que pensei.
Minha pessoa
Na casa dela, comecei a perceber o poder que eu exercia sobre aquela humana, que a cada dia se entregava aos meus encantos. Ganhei a cama, o quarto, a casa, passeios diários. Ah… Como eu dei sorte em encontrar uma Pessoa de Estimação perfeita para mim.
Vivi todas as boas experiências que um ser superior como eu merecia viver. Muitos passeios, brincadeiras, amigos, até um irmão eu ganhei, quando já tinha uns seis anos. Ele alegrou minha vida.
Fomos companheiros inseparáveis, até que ele resolveu ir embora e nunca mais voltou. Não entendi direito, mas como minha Pessoa de Estimação precisava de mim, eu me mantive fofinha, alegre e fui tomando conta dela, até que voltasse a sorrir.
Foram quase 14 anos em que nos desgrudamos poucas vezes. Ela fazia todas as minhas vontades. Eu não posso mentir que, apesar de minha braveza habitual, fiz todas as suas também. Coisas bobas, como beijinhos e abanar o rabinho quando ela chegava em casa. Ah… esses humanos…
Asas
Hoje, porém, aconteceu algo estranho. Tive um pequeno desmaio e, quando acordei, percebi que pisava um chão bem fofinho. Apertei meus olhinhos e, a primeira coisa que vi foi o Pacheco. Que engraçado, ele agora tinha asas, além das patinhas. Ele estava tão lindo e feliz ao me ver. Me chamou para brincar e eu fui. Sai correndo atrás dele naquela grama branquinha e fofa. A gente correu e latiu e brincou bastante.
Quando nos cansamos, percebi que eu também havia ganhado asas.
Texto publicado originalmente no Facebook, em janeiro de 2019, quando Belarmina se foi para sempre.
Para quem não conheceu a Bela
Em maio de 2010, dei uma entrevista sobre eu e a Belarmina, uma salsicha que salvou minha vida em um momento de tristeza.